Nem toda a deficiência é visível !

Ao fim de 21 anos numa cadeira de rodas senti discriminação. Que sentimento horrível!
Nunca pensei passar por isto no meu país, em 2016 e, numa cidade como Lisboa.
Este fim-de-semana, fui sair com um grupo de amigos à discoteca Bosq, que fica na Rua Rodrigues de Faria, 103, na Zona de Alcântara, em Lisboa.
Quando cheguei à porta, ainda na rua, inserido no tal grupo – éramos 15 – vi logo que algo se passava por ter reparado nos seguranças a segredar uns com os outros. Amigos houve que, após se dirigiram aos seguranças, tiveram permissão para entrar. No entanto, quando repararam em mim, algo mudou.
Houve ali um impasse. Até que, minutos depois, dizem que não posso entrar porque a discoteca não tem rampa, nem WC.  Pedimos para chamar o gerente, mas a pessoa não teve coragem de aparecer. Os meus amigos, indignados com a situação, pediram o livro de reclamações mas, como não tínhamos ainda entrado,  não nos deram o livro.
Mas, azar dos azares, dentro da discoteca já estavam duas amigas que tinham ido mais cedo, e foram elas que pediram o livro de reclamações e puderam manifestar a indignação por não me deixarem entrar.
A página tantas, e como não saímos da porta, um dos seguranças disse-nos que se quiséssemos entrar o consumo mínimo, para cada uma das pessoas do grupo, seria de 300€. Engraçado como se realizam milagres: se anteriormente a questão eram as condições para receber alguém numa cadeira de rodas, nomeadamente a rampa e o WC, ao fim de 30 minutos, a questão estava resolvida e era simplesmente financeira.
Não tenho a mínima dúvida que nem era essa a questão, até porque o senti na pele. À falta de argumentos legais e lógicos, foram pelo mais fácil para me impedir de entrar: a questão financeira. Quiseram lançar para baixo do tapete, de uma forma pouco airosa, alguém que se desloca numa cadeira de rodas. Já frequentei tantos espaços noturnos, sem rampas e WC, e nunca, mas nunca, fui tratado de tal forma. É triste ser tratado assim e dói muito.
Mas não são pessoas como estas que me deitam abaixo: são apenas pessoas pequenas e medíocres e, essas sim, devem sentir-se inferiores.
Só espero que um dia, elas próprias, alguém da família, ou próximo, não passe pelo mesmo. Não posso deixar de referir um segurança que falou comigo, compreendeu a minha revolta, mas que justificou a sua posição por estar estava a cumprir ordens.
A essas pessoas digo: eu amo viver e não tenho vergonha de ser deficiente. O que não faltam são outros espaços noturnos para me divertir.
Nem toda a deficiência é visível, essa é que é a grande verdade.

Isto é Portugal no Séc. XXI!

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